Emergências

O ACNUR lança relatório global sobre o acesso dos refugiados à educação

Crianças refugiadas escolas
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Qui, 09/22/2022

O ACNUR lança o relatório global, “Todos incluídos: a campanha pela educação dos refugiados”, com os dados de mais de 40 países que permite demonstrar uma imagem mais clara do acesso dos refugiados à educação e ilustra como as crianças e os jovens estão a ficar para trás em relação aos seus pares não refugiados no acesso a uma educação inclusiva de qualidade.

As taxas médias de matrícula das crianças refugiadas nas escolas primárias no ano letivo de 2020-2021 foram amplamente estáveis ​​atingindo 68%. Mas decresce drasticamente para 37% no nível do Ensino Secundário, que os alunos refugiados historicamente têm lutado para aceder.

Houve, no entanto, melhores notícias no Ensino Superior. Embora a matrícula de pessoas refugiados seja de apenas 6%, continua uma tendência ascendente de apenas 1% em relação aos anos anteriores – dando ao ACNUR motivos de otimismo para ver a sua meta de matrícula no Ensino Superior de 15% até 2030 a ser alcançada.

O relatório anual de educação do ACNUR é publicado no momento em que os líderes mundiais se preparam para debater o futuro da aprendizagem no Encontro Transformando a Educação (originalmente, Transforming Education Summit) na Assembleia Geral da ONU, de 16 a 19 de setembro de 2022.

Sir Lewis Hamilton, que faz campanha por uma maior igualdade, justiça e diversidade na educação e no automobilismo, disse estar “orgulhoso por emprestar a minha voz” à campanha para que crianças e jovens refugiados sejam incluídas nos sistemas nacionais de educação e não sejam deixados de lado, à margem. A educação não apenas alarga os horizontes das pessoas e apresenta-lhes oportunidades que de outra forma nunca sonhariam ter. A educação neutraliza os efeitos prejudiciais da injustiça sistémica”, disse no final do relatório.

“Não se trata apenas de criar melhores oportunidades de vida para os jovens, ajudando-os a encontrar o seu propósito e a moldar o seu próprio futuro. É sobre os efeitos indiretos disso: maior diversidade em posições de liderança e influência, no mundo do trabalho, no desporto, na cultura e na política.”

O relatório mostra jovens refugiados do Sudão, Ucrânia, Quênia e Mianmar enquanto aproveitam as várias oportunidades educacionais disponíveis a que têm tido acesso, apesar da interrupção a que foram sujeitos devido ao seu deslocamento forçado e aos desafios de adaptação a novas – e não tão novas – circunstâncias.

Filippo Grandi, Alto Comissário das Nações Unidas para os Refugiados, observou que muitos países fizeram recentemente grandes progressos na inclusão de alunos refugiados nos sistemas formais de educação nacional. “Agora precisamos de seguir essas políticas com financiamento substancial e sustentado, e reforçar os proveitos da inclusão”, disse Grandi.

Filippo Grandi
“O ditado ‘o talento é universal, mas a oportunidade não’ descreve a realidade de milhões de crianças refugiadas. Precisamos de fechar a lacuna enorme entre o talento e a oportunidade.” Filippo Grandi, Alto Comissário das Nações Unidas para os Refugiados
 

O ACNUR trabalha para a inclusão dos refugiados nos sistemas nacionais de educação desde o início das emergências humanitárias. Para tal acontecer requer mais apoio para formação e melhoria dos salários dos professores, novas infraestruturas, materiais didáticos adequados e relevantes, transporte seguro de e para as escolas, acesso a exames e certificação, e redução da exclusão digital que afeta os refugiados, entre outras necessidades.

“Eu estava constantemente a dizer a mim mesma: deves fazer o que for preciso para ter sucesso.” Raïssa fugiu da República Centro-Africana em 2013, acabando por se estabelecer no Chade. Mesmo como jovem mãe com baixos rendimentos, conseguiu completar o Ensino Secundário. Em seguida, ganhou uma bolsa de estudos no DAFI (Albert Einstein German Academic Refugee Initiative), apoiada pela Alemanha, Dinamarca e a República Checa, bem como pelo ACNUR e outros doadores privados. DAFI apoia mais de 21.000 jovens refugiados a realizar estudos superiores desde 1992. Agora com 24 anos, Raïssa licenciou-se recentemente em Comunicação e Marketing na Universidade Koussi, em N'Djamena. “O meu filho vai para a escola, eu vou para a universidade. Somos apenas nós os dois e continuamos.” O marketing combina com ela, acrescenta: “Quero ser criativa, ser uma líder. Estou sempre interessada em aprender coisas novas. Estou sempre em movimento, a fazer alguma coisa. Nunca há um momento de tédio."
 

“A educação é um investimento no desenvolvimento, nos direitos humanos e na paz”, disse Grandi. “Agora é a hora de investir no futuro humano – em construtores, criadores e pacificadores iniciantes.”

Ele acrescentou: “No caso dos refugiados, é um investimento nas pessoas que reconstruirão os seus países quando puderem voltar para casa em segurança”.