Família de refugiados sírios recomeça a vida em Espanha após terramotos na Turquia Família de refugiados sírios recomeça a vida em Espanha após terramotos na Turquia

Família de refugiados sírios recomeça a vida em Espanha após terramotos na Turquia

8 of septiembre, 2023

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Seis meses depois de ter perdido tudo durante os terramotos devastadores que atingiram o sudeste da Turquia, uma família de refugiados sírios está a construir uma nova vida na cidade espanhola de Sevilha.

Era um domingo como outro qualquer para Ali Al-Ahmad. Era o seu dia de folga e passava-o com a família na sua casa em Gaziantep, no sudeste da Turquia.

Tinham passado 10 anos desde que Ali, 45 anos, a sua mulher Zahida e os seus quatro filhos foram obrigados a fugir de Alepo, na Síria, e, durante esse tempo, tinham reconstruído lentamente as suas vidas. Os filhos estavam na escola, Ali tinha trabalho numa fábrica de roupa e, com grande esforço, tinham construído uma nova casa num país que os tinha acolhido. Estavam orgulhosos do que tinham conseguido.

Mas às 4h16 da manhã seguinte, a 6 de fevereiro, os Al-Ahmads enfrentaram outro desastre. Desta vez, não foram as bombas que ameaçaram destruir a sua casa, mas sim um terramoto. "Num instante, em 16 segundos, foi tudo abaixo", conta Ali. "Foi aterrador, sentimos que podíamos morrer a qualquer momento, o edifício tremia, as pessoas gritavam... mas, de alguma forma, consegui reunir as crianças e tirá-las do edifício."

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Com uma magnitude de 7,8 e 7,5 na escala de Richter, os dois terramotos e as suas réplicas foram os mais devastadores registados na Turquia num século, afetando uma região de 15 milhões de pessoas, 1,7 milhões das quais eram refugiados. A catástrofe natural, que matou mais de 55.000 pessoas no sudeste da Turquia e no norte da Síria, atingiu as comunidades no pico do inverno, deixando milhões de pessoas sem casa.

Ali e a sua família não foram exceção. Depois do terramoto, ficaram retidos no rigoroso inverno turco, a viver numa pequena tenda. Agarravam-se uns aos outros para se manterem quentes, vivendo de pão, bolachas, nozes e alguma comida quente que era ocasionalmente distribuída.

Um dia, enquanto estava na tenda com a sua família, Ali recebeu uma chamada do ACNUR: "Disseram-me que tínhamos sido selecionados para sermos reinstalados em Espanha. Olhei à minha volta, vi os meus filhos e a minha mulher; tínhamos perdido tudo outra vez, mas havia esperança para o futuro", recorda. "Ter alguém a estender-nos a mão naquela situação e a querer ajudar-nos é uma sensação incrível."

Solidariedade através da reinstalação

A 4 de março, apenas um mês após os terramotos, Ali e a sua família chegaram a Espanha no primeiro voo de reinstalação de emergência da Turquia para refugiados afetados pelos terramotos. A Espanha foi um dos primeiros países a responder ao pedido do ACNUR para que os Estados acelerassem os seus processos de reinstalação dos refugiados afetados pela catástrofe. Após esse voo, seguiram-se outros provenientes da Turquia, permitindo que cerca de 300 refugiados começassem uma nova vida em Espanha. Estes refugiados fazem parte do compromisso assumido pelo Governo espanhol de reinstalar 1200 pessoas refugiadas este ano.

Ali e a sua mulher Zahida assistem a uma aula de espanhol num centro de acolhimento de pessoas refugiadas em Sevilha, onde estão a viver.

Ali e a sua mulher Zahida assistem a uma aula de espanhol num centro de acolhimento de pessoas refugiadas em Sevilha, onde estão a viver.

A reinstalação de refugiados é uma expressão tangível da solidariedade e da partilha de responsabilidades com países como a Turquia, que acolhe a maior população de refugiados e requerentes de asilo do mundo desde 2014. Oferece também soluções imediatas a famílias em situações vulneráveis, como a de Ali.

A família Al-Ahmad está atualmente a viver num centro de acolhimento de refugiados gerido pelo Ministério da Inclusão, Segurança Social e Migração em Sevilha e as crianças começaram a frequentar a escola. Tendo sobrevivido a uma guerra e a um terramoto, e tendo perdido entes queridos em ambos, a sua estadia no centro está a ajudá-los a sarar do trauma. "Um dos meus filhos ainda tem pesadelos e acorda muitas vezes a gritar a meio da noite", disse Ali.


Ali leva os seus filhos de 11 e 9 anos à escola em Sevilha.

Ali leva os seus filhos de 11 e 9 anos à escola em Sevilha. © ACNUR/Marc Rovira

Para além de cobrir as suas necessidades básicas durante um período máximo de dois anos, a equipa de profissionais do centro dá-lhes apoio psicossocial, aulas de espanhol, orientação administrativa e profissional para os ajudar a integrarem-se na sociedade espanhola e a tornarem-se independentes.

Ali conhece muito bem os desafios de começar uma vida do zero. Mas todas as suas energias estão agora concentradas em aprender espanhol e encontrar um emprego para que a sua família possa deixar o centro e mudar-se para um apartamento. "Apesar de estar a ficar velho, ainda tenho o coração e a mente de um jovem", disse. "Estou determinado a construir aqui, a trabalhar e a educar os meus filhos. Quero concentrar-me nos meus sonhos e torná-los realidade."

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