Em dezembro de 1950, no rescaldo da II Guerra Mundial, a ONU criou o Alto Comissariado das Nações Unidas para os Refugiados (ACNUR) com um mandato simples mas imenso: proteger e encontrar soluções para milhões de pessoas que tinham perdido tudo. O mandato inicial era de apenas três anos. Sete décadas depois, o ACNUR continua ativo e mais necessário do que nunca.
Ao longo destes 75 anos, a organização:
Em Portugal, o ACNUR retomou a sua presença em 2018, estabelecendo uma estrutura de ligação que desenvolve atividades de advocacy, aconselhamento técnico e formação a autoridades públicas e organizações não governamentais, com o objetivo de reforçar a capacidade de oferecer proteção e soluções às pessoas em necessidade de proteção internacional e aos apátridas.
Desde 2021, a missão do ACNUR tem um rosto próximo através da Fundação Portugal com ACNUR, parceira nacional que nasceu para sensibilizar e mobilizar recursos que apoiam os programas de ajuda humanitária do ACNUR nos mais de 135 países onde atua, em áreas vitais como nutrição, cuidados médicos, água potável e saneamento, educação, abrigo, infraestruturas básicas, assistência jurídica e proteção internacional.
Tal como acontece com outros parceiros nacionais em diferentes países, a Portugal com ACNUR procura também envolver o público, o setor privado, entidades públicas descentralizadas e a sociedade civil, reforçando a cultura de solidariedade e acolhimento.
O ACNUR75 contempla um ciclo de experiências afetas à realidade da pessoa refugiada. É uma programação cultural que alicerça em primeira pessoa os obstáculos físicos e psicológicos de um indivíduo nesta condição. A proposta cultural não se centra na identidade do refugiado em si, mas no ser humano que nele existe — convidando-nos a reconhecer, através da arte e da experiência, a possibilidade de todos encarnarmos o seu lugar.
Desse modo, o programa pesa sobre a ênfase da viagem e do que é deixado para trás no seu quotidiano transformado. Como a guerra não simplesmente existe, mas persegue; como é cega, no instante do seu impacto, às fronteiras que nos separam. Como não faz distinção de classe, sexo e ofício. A qual não distingue o humano do animal.
CONVITE
O primeiro momento terá lugar integrado na 20.ª edição da Semana da Responsabilidade Social (SRS 2025) - organizada pela APEE – Associação Portuguesa de Ética Empresarial, que decorre nos dias 5 e 6 de novembro, das 10h00-17h30, em formato exclusivamente presencial, no Estúdio Time Out – Time Out Market, Lisboa [Av. 24 de Julho, 49, Lisboa].
Dois dias para assinalar conquistas, dar voz a testemunhos inspiradores e lançar um apelo para o futuro: que juntos continuemos a defender a dignidade e os direitos humanos de todas as pessoas forçadas a fugir.
Junte-se a nós neste marco histórico. Porque celebrar os 75 anos do ACNUR é celebrar também o poder transformador da solidariedade.
Instalação de arte sonora
5 e 6 de novembro de 2025. Estúdio Time Out - Time Out Market, Lisboa.
Na Baía da Morte, quatro pessoas deixam as suas vidas. Inspirada em testemunhos reais, a instalação sonora explora o choque entre o mundano da vida e a guerra, o desastre, que interfere com pessoas de diferentes origens, profissões e estatutos sociais. Uma implacável demonstração da máquina da guerra que alude a uma grande onda que esbate a personalidade destas pessoas, destas rochas numa orla, e as torna em grãos — estatística. Esta despersonalização mostra como o areal, consumido pela maré da guerra, tem origem em planos de vida maiores. Mostra como o humano chega à orla e como, à devastadora sombra desse processo, se torna nela.

2026
“Rubicon”, que fornece título à instalação artística com a Portugal com ACNUR, representa um ponto de não-retorno. Um ato de coragem que é replicado entre quatro paredes e carrega testemunhos que informam uma experiência imersiva sobre os obstáculos físicos e psicológicos da guerra: o terror que assola, e persegue, imprimindo a sua marca.
Com recurso a testemunhos reais, Rubicon monta um palco que centra o público no conflito que constitui a sua premissa através de um barco que alude à travessia dos refugiados de guerra. A experiência imersiva esbate a realidade e a ficção com a introdução de atos de dança, as “sombras”, que acompanham a viagem como pesadelos do passado: o que e quem ficou para trás.

Representa-se uma situação de não-retorno que se manifesta num grupo específico de pessoas, mas que tenderá a ressoar com circunstâncias implacáveis da realidade urbana, afeta a crises de deslocação forçada, habitação e pertença. Interessou-nos por isto contemplar que cabem todos estes problemas em quatro paredes que refletem simultaneamente uma distância e uma proximidade às nossas vidas. Trabalhar com a Portugal com ACNUR neste projeto é, por isso, uma oportunidade para aproximar estas realidades.
— António Bernardes de Sá & Tiago Bastos Nunes

A conclusão do programa é definida por uma exposição que junta artistas de nações em guerra e pós-guerra, propondo um diálogo artístico sobre o que acontece em sua sucessão — o que acontece à cultura entre escombros.
O programa cultural é organizado e concebido pela ADVERSA, com o apoio da Portugal com ACNUR e a direção dos artistas António Bernardes de Sá e Tiago Bastos Nunes.