Moçambique, a "Emergência Invisível" Moçambique, a "Emergência Invisível"

Moçambique, a "Emergência Invisível"

A violência continua a afetar a vida de quase 1 milhão de pessoas

Última atualização: 26 de dezembro, 2024

Crise de deslocados internos em Cabo Delgado

Nos últimos anos, Moçambique tem enfrentado desafios humanitários devastadores devido à combinação de conflitos violentos e desastres naturais. Desde 2022, o número de deslocados internos tem continuado a crescer exponencialmente, superando um milhão de pessoas nas províncias de Cabo Delgado, Niassa e Nampula. A violência por grupos armados não estatais (NSAG), somada aos impactos das alterações climáticas, agravou a crise, com milhares de famílias forçadas a abandonar as suas casas repetidamente.

A incapacidade de garantir acesso humanitário seguro a muitas áreas continua a ser um dos maiores obstáculos para as agências da ONU e parceiros humanitários, dificultando a prestação de ajuda vital. Em resposta à gravidade da situação, o ACNUR declarou uma Emergência de Nível 2 em março de 2022 e desde então tem intensificado os esforços para apoiar as populações afetadas, apesar de um cenário de subfinanciamento crónico.

Moçambique continua a ser um dos países mais afetados pelas alterações climáticas no mundo. Apenas em 2023 e 2024, sucessivos ciclones e tempestades tropicais, incluindo o devastador Ciclone Chido, deixaram centenas de milhares de pessoas sem abrigo e aumentaram os riscos de doenças devido à destruição de infraestruturas básicas como sistemas de saúde e acesso a água potável.

refugiados moçambique

A ajuda do ACNUR em Moçambique

O ACNUR tem trabalhado em estreita colaboração com o Governo de Moçambique e parceiros locais para responder às necessidades crescentes. Até ao momento, tem prestado serviços de proteção a centenas de milhares de pessoas deslocadas, distribuído artigos essenciais como abrigos de emergência e garantido cuidados de saúde e apoio jurídico. Em Cabo Delgado, iniciativas específicas têm ajudado a reforçar a sensibilização sobre violência baseada no género e a melhorar a coordenação em campos de deslocados.

No campo de reassentamento de Maratane, na província de Nampula, o ACNUR continua a apoiar refugiados, requerentes de asilo e comunidades de acolhimento, assegurando serviços de saúde, nutrição e proteção. Além disso, esforços têm sido redobrados para integrar refugiados e deslocados internos em programas de desenvolvimento a longo prazo, promovendo a autossuficiência e a subsistência sustentável.

ACNUR, Governo de Moçambique e os seus parceiros

21.500

pessoas deslocadas em Cabo Delgado receberam assistência jurídica.

140.000

pessoas apoiadas por campanhas de prevenção e sensibilização sobre violência baseada no género

Impacto das Alterações Climáticas

O ACNUR permanece profundamente preocupado com a violência e insegurança persistentes no norte de Moçambique. Conflitos armados e deslocações forçadas, agravados pelos impactos crescentes de fenómenos climáticos extremos, têm levado a uma intensificação das necessidades de proteção física, material e legal para centenas de milhares de refugiados, deslocados internos e membros das comunidades de acolhimento.

Desde 2022, Moçambique tem sido severamente afetado por uma série de tempestades tropicais e ciclones. Estes eventos climáticos extremos, que impactaram principalmente as zonas costeiras do norte, continuam a forçar milhares de famílias a abandonar as suas casas, muitas vezes em áreas já fragilizadas pela violência.

Mais recentemente, em dezembro de 2024, o Ciclone Tropical Chido atingiu o norte de Moçambique com chuvas torrenciais e ventos devastadores, afetando mais de 329.000 pessoas nas províncias de Cabo Delgado, Nampula e Niassa. O ciclone causou a destruição de milhares de casas, danos severos em infraestruturas de saúde e deixou inúmeras comunidades sem acesso a água potável, aumentando os riscos de surtos de doenças.

Anteriormente, em março de 2022, o ciclone tropical Gombe já havia afetado mais de 736.000 pessoas, incluindo os habitantes do campo de Corrane para deslocados internos e os refugiados no centro de reassentamento de Maratane. Em Maratane, 80% dos abrigos foram danificados, deixando mais de 27.000 refugiados, requerentes de asilo e membros da comunidade de acolhimento em necessidade urgente de assistência.

Estes desastres reforçam como os efeitos das alterações climáticas interagem com as causas subjacentes da deslocação forçada em Moçambique, intensificando os desafios enfrentados pelas populações já vulneráveis e exigindo uma resposta humanitária reforçada e sustentável.

A ajuda humanitária é fundamental

Apesar destes esforços, a ajuda humanitária em Moçambique enfrenta desafios significativos devido à insuficiência de recursos. As operações do ACNUR no país necessitam de financiamento urgente para responder às necessidades imediatas e planejar soluções duradouras. Em 2024, o impacto acumulado da violência e das alterações climáticas tornou essencial reforçar as capacidades de resposta, tanto para enfrentar emergências quanto para mitigar crises futuras.

As necessidades de proteção, abrigo e assistência continuam a crescer diariamente. O ACNUR apela à comunidade internacional para intensificar o apoio financeiro e político a Moçambique, garantindo que as populações mais vulneráveis não sejam esquecidas nesta crise humanitária "invisível".

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