Emergência climática: uma emergência humanitária
Os conflitos continuam a ser o principal fator de deslocação a nível mundial. Mas, na verdade, está a cruzar-se com outros fatores, incluindo o impacto de fenómenos meteorológicos extremos.
A grande maioria das pessoas deslocadas devido a fenómenos meteorológicos extremos e a riscos naturais permanece no seu país e a maioria das deslocações é temporária.
Segundo o Internal Displacement Monitoring Centre (IDMC) de 2024, no final de 2023, havia 75,9 milhões de pessoas a viver em deslocamento interno, com 26,4 milhões de novos deslocamentos causados por desastres naturais e 20,5 milhões por conflitos e violência.
Tempestades, ciclones, furacões, inundações, incêndios e secas forçam mais pessoas a fugir das suas casas do que qualquer guerra. A crise climática afeta-nos a todos. É uma emergência humanitária global, que requer uma resposta imediata e eficaz.
Novas escaladas de conflitos, como no Sudão e na Palestina, forçaram milhões de pessoas a fugir, juntando-se às dezenas de milhões que já viviam deslocadas devido a conflitos atuais ou anteriores. Terramotos, tempestades, inundações e incêndios florestais destruíram um grande número de casas, obrigando ainda mais pessoas a permanecerem deslocadas no final do ano. Na ausência de soluções duradouras para as deslocações, este número continuará provavelmente a aumentar.
Devido às suas consequências irreversíveis, à sua magnitude, à sua intensidade e à velocidade a que avança, a crise climática é a emergência humanitária dos dias de hoje. Embora as regiões mais pobres do mundo sejam as mais afetadas, a escala da emergência é global, afetando todo o planeta.
As pessoas deslocadas por conflitos e pelos impactos das alterações climáticas precisam de proteção e soluções. Trata-se de um desafio duplo: os fenómenos climáticos, como cheias, secas e ondas de calor, estão a aumentar o risco de deslocamento e a tornar a vida mais difícil para quem já foi forçado a fugir.
À escala global, dos 120 milhões de pessoas deslocadas por conflitos e perseguições em todo o mundo, 90 milhões (três em cada quatro) vivem atualmente em países com exposição elevada a extrema a riscos climáticos como inundações, calor extremo e secas (exemplos: Síria, Iémen Sudão, Haiti, Myanmar, Etiópia) – todos eles atravessam crises humanitárias agravadas por questões como insegurança alimentar e escassez de água potável, bem como pela disputa por controlo de recursos naturais.
Os fenómenos meteorológicos extremos e as alterações climáticas estão a aumentar em todo o mundo. Mas o seu impacto depende de quem somos e onde vivemos.
O custo humanitário da emergência climática é enorme: deslocação forçada, fome, conflito, morte e devastação.
90 milhões
(três em cada quatro pessoas) vivem atualmente em países com exposição elevada a extrema a riscos climáticos como inundações, calor extremo e secas
+ de 140
países afetados pelos efeitos das alterações climáticas
200 milhões
as pessoas poderão precisar de assistência humanitária anualmente até 2050 devido ao impacto das alterações climáticas.
A nível global, o ACNUR lançou a Estratégia de Ação Climática 2021-2025, que define três pilares: proteger os deslocados, preparar as comunidades e promover soluções sustentáveis. Reforçar o compromisso requer vontade política, financiamento adequado e inclusão do tema nas agendas internacionais, como nas COPs (Conferência das Partes da ONU sobre o Clima).
A nível global, o ACNUR participou ativamente na COP29, realizada em Baku em 2024, onde destacou a necessidade urgente de incluir os refugiados nas políticas climáticas e de aumentar o financiamento para apoiar os países em desenvolvimento na gestão dos desafios induzidos pelo clima .
O ACNUR apela a todas as partes para:
A crise climática é uma crise humana. Está a tornar a vida ainda mais difícil para aqueles que foram forçados a fugir.
O ACNUR está a fornecer proteção e assistência a muitos refugiados e outras pessoas deslocadas pelos efeitos das alterações climáticas, bem como a ajudá-los a aumentar a sua resiliência a futuras catástrofes.
Atualmente, 200 milhões de pessoas necessitam de assistência humanitária todos os anos devido a catástrofes naturais. Em apenas 10 anos, este número pode aumentar em 50%.
Os impactos desta crise são maiores onde a fragilidade e o conflito enfraqueceram os mecanismos de sobrevivência; onde as pessoas dependem do capital natural para o seu sustento; e onde as mulheres, que suportam o peso da emergência climática, não gozam dos mesmos direitos.
António Guterres, Secretário-geral das Nações Unidas.