Emergência climática: uma emergência humanitária
As catástrofes naturais geraram 30.7 milhões de deslocados internos em mais de 140 países e territórios em 2020, de acordo com o Centro de Monitorização de Deslocados Internos (IDMC). Este é o número mais elevado desde 2012 e é três vezes o número de pessoas deslocadas pela guerra, conflito e violência. Mais de três quartos dos deslocados internos em 2020 surgem devido a catástrofes.
Tempestades, ciclones, furacões, inundações, incêndios e secas forçam mais pessoas a fugir das suas casas do que qualquer guerra. A crise climática afeta-nos a todos. É uma emergência humanitária global, que requer uma resposta imediata e eficaz.
Devido às suas consequências irreversíveis, à sua magnitude, à sua intensidade e à velocidade a que avança, a crise climática é a emergência humanitária dos dias de hoje. Embora as regiões mais pobres do mundo sejam as mais afetadas, a escala da emergência é global, afetando todo o planeta.
As catástrofes levaram à deslocação de pessoas tanto em países de baixo rendimento, como de alto rendimento, tais como os EUA (1.7 milhões de deslocados internos em 2020), Canadá (26.000 deslocados internos em 2020) e Austrália (com 51.000 deslocados internos em 2020).
Cinco dos países com as maiores populações de refugiados estão também entre os mais vulneráveis à crise climática: Síria, Venezuela, Afeganistão, Sudão do Sul e Mianmar. 95% dos novos deslocados internos decorrentes de conflitos em 2020 ocorreram em países altamente vulneráveis às alterações climáticas.
O custo humanitário da emergência climática é enorme: deslocação forçada, fome, conflito, morte e devastação.
30,7 milhões
de deslocados internos decorrentes das alterações climáticas em 2020, de acordo com o IDMC.
+ de 140
países afetados pelos efeitos das alterações climáticas
200 milhões
as pessoas poderão precisar de assistência humanitária anualmente até 2050 devido ao impacto das alterações climáticas.
Os refugiados e deslocados estão entre os mais expostos à crise climática, muitos procuram segurança nos países que menos contribuem para o agravamento das alterações climáticas e que possuem menos recursos para se adaptarem. As alterações climáticas podem ser um motor de conflito, aumentar a subnutrição e a insegurança alimentar, complicar o acesso aos meios de subsistência, afetar o acesso à educação e os serviços de saúde. Refugiados, deslocados internos e apátridas estão na linha da frente da emergência climática. Muitos vivem em "pontos quentes" climáticos, onde normalmente não dispõem de recursos para se adaptarem a um ambiente cada vez mais hostil. Mais de 70% dos refugiados e deslocados do mundo vêm dos países mais vulneráveis ao clima, incluindo o Afeganistão, a República Democrática do Congo, a Síria, e o Iémen.
Na 27ª Conferência do Clima das Nações Unidas (COP27) - final de 2022, o Alto Comissário das Nações Unidas para os Refugiados Filippo Grandi apela aos líderes globais para travarem as consequências humanitárias mais devastadoras da crise climática e a evitar um futuro catastrófico para milhões de pessoas deslocadas: "Não podemos deixar que milhões de pessoas deslocadas e os seus anfitriões enfrentem sozinhos as consequências de um clima em mudança".
O ACNUR apela a todas as partes para:
- combater os impactos crescentes e desproporcionados da emergência climática sobre os países e comunidades mais vulneráveis - em particular as pessoas deslocadas e os seus anfitriões;
- apoiar os países e comunidades vulneráveis nos seus esforços para aumentar rapidamente as medidas de prevenção e de preparação para evitar, minimizar e enfrentar a deslocação.
A crise climática é uma crise humana. Está a tornar a vida ainda mais difícil para aqueles que foram forçados a fugir.
O ACNUR está a fornecer proteção e assistência a muitos refugiados e outras pessoas deslocadas pelos efeitos das alterações climáticas, bem como a ajudá-los a aumentar a sua resiliência a futuras catástrofes.
Atualmente, 108 milhões de pessoas necessitam de assistência humanitária todos os anos devido a catástrofes naturais. Em apenas 10 anos, este número pode aumentar em 50%.
Os impactos desta crise são maiores onde a fragilidade e o conflito enfraqueceram os mecanismos de sobrevivência; onde as pessoas dependem do capital natural para o seu sustento; e onde as mulheres, que suportam o peso da emergência climática, não gozam dos mesmos direitos.
António Guterres, Secretário-geral das Nações Unidas.