1 em cada 3
requerentes de asilo e pessoas refugiadas têm um diagnóstico formal de depressão, ansiedade e perturbações de stress pós-traumático
Até 44%
dos refugiados em alguns países de acolhimento relataram ter sobrevivido à tortura
Não há saúde sem saúde mental, e para os refugiados, isso não é um luxo – é um Direito Humano.
– Kristin Davis, Embaixadora da Boa Vontade do ACNUR
Tratam-se de situações extremas que afetam significativamente o bem-estar e a saúde mental destas pessoas. No caso dos conflitos, por exemplo, o ACNUR revela que cerca de 22% dos adultos que experienciam estes contextos acabam por sofrer de perturbações de saúde mental. A Organização aponta também para que 1 em cada 5 pessoas refugiadas sofram de problemas de saúde mental como angústia, ansiedade, depressão, psicose e perturbação bipolar. Existem ainda casos mais complexos em que as pessoas deslocadas acabam por apresentar sintomas de stress pós-traumático ou risco de suicídio.
No caso do suicídio, as populações deslocadas apresentam à partida um maior risco, devido a todas as experiências que viveram antes da fuga, durante a mesma ou até mesmo depois, quando tentam reintegrar-se nas comunidades de acolhimento e refazer as suas vidas. As crianças e os adolescentes que nalgum momento foram expostos à violência ou que vivem em circunstâncias extremamente difíceis são quem gera maior preocupação, sendo que a violência, a negligência ou o abuso infantil aumentam o risco de suicídio numa fase posterior da vida. Por outro lado, situações de violência de género associadas à deslocação forçada constituem um dos principais fatores de risco para o suicídio em raparigas e mulheres. Também as longas estadias em exílio, muitas vezes, em condições adversas aumentam consideravelmente os riscos de problemas de saúde mental, incluindo a automutilação e o suicídio.
Para os refugiados, o acesso ao apoio mental e psicossocial pode significar a diferença entre sobreviver e prosperar num novo ambiente.
O ACNUR prestou apoio psicossocial e de saúde mental a 1.3 milhões de pessoas em 2023, mas ainda há muito por fazer
A saúde mental tornou-se, assim, uma prioridade para o ACNUR, com a Organização a apostar cada vez mais no desenvolvimento de um programa de saúde mental e apoio psicossocial que ajude estas populações a enfrentar os desafios da deslocação, a cuidar das suas famílias, garantir meios de subsistência e contribuir para as comunidades que as acolhem. Tratam-se de intervenções individuais, familiares e em grupo adaptadas às diversas necessidades de homens, mulheres, raparigas e rapazes de qualquer idade, etnia, origem e religião, bem como a pessoas com deficiência e a outros grupos marginalizados e vulneráveis da comunidade de refugiados.
No Uganda, Paul, um refugiado congolês de 66 anos que vive no campo de refugiados Nakivale, partilha o seu testemunho:
“Há dez anos, tornei-me refugiado. Onde vivo, as pessoas dizem que sou um pai inútil, porque não consigo tomar conta de mim e da minha família. Sempre senti que não me encaixava. Isso deixou-me sem esperança e isolado. Sentia-me inútil e não via que tinha futuro”. Mas foi graças ao apoio do ACNUR que voltou a reencontrar a esperança e a força para reerguer a sua vida. “Nos grupos de socioterapia aprendi muito e fiquei sensibilizado com as diferentes experiências partilhadas e com a forma como as pessoas lutavam. Isso abriu-me os olhos e mudei. Sinto que agora sou uma pessoa melhor na minha comunidade", conta.
Para o ACNUR é crucial incluir a saúde mental e o apoio psicossocial no planeamento das respostas humanitárias e incentivar os Estados a integrarem os refugiados e as pessoas deslocadas nos serviços nacionais e nos sistemas de cuidados de saúde existentes.