Um projeto de apicultura está a criar meios de subsistência para mulheres e homens afegãos e a ajudar o ambiente.
Vestida com um fato de proteção branco, luvas e um chapéu com uma rede a cobrir-lhe o rosto, Hadia, uma jovem mãe de três filhos, levanta cuidadosamente uma estrutura de madeira de uma colmeia. Centenas de abelhas enxameiam à sua volta enquanto ela escova suavemente outras do favo que se formou no interior e coloca o quadro numa caixa, que levará para casa para extrair a sua primeira colheita de mel. Enquanto isso, exibe um sorriso nervoso.
Hadia e o marido eram refugiados no Irão e têm lutado para sustentar a família na aldeia de Dehzaq, na província ocidental de Herat, desde que regressaram ao Afeganistão há vários anos. Trata-se de uma zona rural empobrecida e, tal como a maior parte das famílias da região, não têm trabalho regular e têm muitas dívidas.
“Enfrentamos muitos problemas”, diz a jovem de 25 anos. “Quando a nossa situação financeira não é boa, não podemos melhorar a nossa vida nem garantir o futuro dos nossos filhos. Não se pode comprar coisas para eles, como roupa e comida, nem apoiar a sua educação.”
Por isso, quando surgiu a oportunidade de participar num programa de formação para apicultores, em que as mulheres eram incentivadas a candidatar-se, Hadia agarrou a oportunidade. Desde que as autoridades de facto tomaram o poder há três anos, as mulheres no Afeganistão têm enfrentado restrições crescentes ao seu direito de trabalhar, viajar e estudar, limitando severamente a sua participação na vida pública e a sua capacidade de ganhar a vida.
“Há muito que sonhava em pôr-me de pé e ter um emprego”, diz Hadia. “Estamos muito felizes por ter esta oportunidade e estamos determinados a aproveitá-la.”
Ela vive numa das cinco aldeias do distrito de Guzara onde 50 participantes - 38 dos quais mulheres - estão a aprender a criar abelhas. O projeto está a ser gerido pela Associação de Atividades Femininas e Serviços Sociais (WASSA), um parceiro do ACNUR que trouxe especialistas locais em apicultura como formadores. Cada participante recebeu vestuário de proteção e kits de arranque, incluindo quadros, um extrator de mel e cinco colmeias, cada uma com cerca de 70.000 abelhas.
Para além de aprenderem a cuidar das abelhas, os participantes recebem os conhecimentos e as competências necessárias para iniciarem o seu próprio negócio de venda de mel e de subprodutos como a cera de abelha, a geleia real e o própolis (um material semelhante a uma resina produzido pelas abelhas que é frequentemente utilizado para combater bactérias e vírus). É igualmente prestado apoio para as ajudar a estabelecer mercados para os seus produtos.
O projeto também está a ser executado nas regiões central e oriental do Afeganistão, estando um total de 200 pessoas a receber formação no âmbito do programa, com o apoio do Fundo Fiduciário Humanitário do Afeganistão, do Banco Islâmico de Desenvolvimento e do Fundo Saudita para o Desenvolvimento.
Embora as aldeias rurais sejam frequentemente consideradas conservadoras, a participação das mulheres tem sido bem acolhida pelas comunidades, uma vez que o trabalho pode ser realizado perto de casa, envolve frequentemente outros membros da família e tem claros benefícios económicos.
Na aldeia de Kala Gerd, Halima, de 54 anos e mãe de sete filhos, outra antiga refugiada no Irão, tem tido dificuldades desde que o marido ficou demasiado doente para trabalhar e que uma série de terramotos devastadores atingiram a província de Herat em outubro passado danificando a casa e as colheitas. Mas depois de ter participado na formação em apicultura, a sua primeira colheita de mel rendeu 26 quilogramas de mel e ela está ansiosa por se tornar o principal sustento da família. “A minha família está muito orgulhosa e feliz por a mãe ter um emprego e, em breve, um rendimento”, sorri.
Ela vai usar os lucros para comprar comida e roupa para a família, mas também planeia investir em mais colmeias. A sua maior preocupação agora é proteger as abelhas das pragas, especialmente das vespas gigantes. Agarrada a uma vassoura, demonstra como lida com as vespas, batendo-lhes destemidamente com os galhos. “Tenho de as esmagar, senão matam as minhas abelhas”, diz. “As nossas abelhas serão a nossa principal fonte de rendimento e estou determinada a cuidar delas.”
Para além de ajudar a sustentar famílias individuais, o projeto tem benefícios mais amplos para estas comunidades rurais, onde a maioria das pessoas vive da agricultura. As abelhas contribuem para a biodiversidade local e são importantes polinizadores, salienta o supervisor do projeto de apicultura da WASSA, Jalil Ahmad Frotan, que cria abelhas há 13 anos e tem cerca de 100 colmeias próprias.
“A investigação provou que se colocarmos colmeias, por exemplo, num pomar de maçãs, podemos aumentar o nosso rendimento em cinco vezes. Por isso, é muito importante alargarmos este tipo de projeto e partilharmos os benefícios da polinização com os nossos agricultores.
“Não há alimentos sem abelhas”, acrescenta.
Na mesma aldeia que Halima, o pai de 10 filhos, Hafizulla, também ele um refugiado regressado, disse que o projeto lhe deu um novo objetivo e motivação. “Estava sem emprego e deprimido. A apicultura está a manter-me muito ocupado; tenciono continuar e expandir as minhas abelhas.
“Espero que possa ajudar a criar uma vida melhor para a minha família - a nossa vida pode tornar-se mais doce, como o mel.”
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