A Educação Ajuda uma Ex-Refugiada a Construir uma Ligação Mais Forte com a Sua Terra Natal A Educação Ajuda uma Ex-Refugiada a Construir uma Ligação Mais Forte com a Sua Terra Natal

A Educação Ajuda uma Ex-Refugiada a Construir uma Ligação Mais Forte com a Sua Terra Natal

27 de janeiro, 2025

Tempo de leitura: 4 minutos

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Na República Quirguiz, uma jovem afegã encontrou esperança e determinação para retribuir ao seu país de origem através da educação.

Desde criança, Suhaila sempre encontrou conforto nos números. “Não gosto de coisas vagas”, diz a ex-refugiada afegã, de 24 anos, que agora trabalha na área da administração financeira. “Os números são sempre certos, estáveis.”

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Para alguém que foi forçada a fugir de casa aos quatro anos de idade, este desejo de estabilidade é compreensível. No ano 2000, perante a crescente insegurança e violência no Afeganistão, os pais de Suhaila decidiram que o país já não era um lugar seguro para criar os filhos e a família fugiu para a República Quirguiz.

“No início, foi difícil”, recorda Suhaila, acrescentando que só depois de a família se inscrever em aulas oferecidas pelo ACNUR – incluindo cursos de língua russa – é que começaram a integrar-se e a fazer amizades com outros membros da comunidade afegã em Bishkek, a capital.

Como refugiados reconhecidos, Suhaila e a sua família receberam cartões de refugiado e tiveram acesso a alguns direitos básicos, incluindo educação. Ela e os irmãos adaptaram-se rapidamente à nova escola, mas lembra que a adaptação foi muito mais difícil para a mãe, que era dona de casa.

“Foi nesse momento que decidi que queria ser independente”, conta Suhaila, acrescentando que a educação era o passo mais importante para alcançar esse objetivo.

Oportunidade para um Futuro Melhor

Após terminar o ensino secundário, Suhaila queria continuar os estudos. Os pais apoiaram-na, mas ela sabia que seria um grande desafio financeiro. Quando ouviu falar da bolsa DAFI – um programa gerido pelo ACNUR com o apoio do governo alemão e outros doadores – decidiu candidatar-se. Um ano depois, recebeu uma bolsa para estudar Administração de Empresas, com especialização em Contabilidade Financeira, na Universidade Americana da Ásia Central.

Os jovens refugiados enfrentam enormes barreiras para aceder ao ensino superior. Além dos elevados custos das propinas, muitos não têm eletricidade ou ligação à internet em casa. As barreiras para as raparigas refugiadas são ainda maiores, com mais rapazes a concluírem o ensino secundário do que raparigas. Embora tenham sido feitos progressos, aumentando a taxa de refugiados matriculados no ensino superior de 1% em 2019 para 7% em 2023 – em parte graças ao programa DAFI – as taxas de matrícula continuam a ser muito inferiores às dos não-refugiados.

Desde o lançamento do programa DAFI na República Quirguiz, em 1997, mais de 100 jovens refugiados tiveram a oportunidade de frequentar o ensino superior.

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Um Novo Olhar Sobre o Afeganistão

Para Suhaila, a universidade mudou a sua vida de várias formas. Ali, encontrou-se rodeada de jovens brilhantes e ambiciosas, muitas delas do Afeganistão.

“Eu não cresci em meio a um conflito, mas elas sim. Apesar disso, tinham uma energia e uma paixão enormes para mudar as suas vidas”, conta.

O que aprendeu com as novas amigas, aliado à liberdade proporcionada por uma universidade de artes liberais, despertou nela um interesse mais profundo sobre a situação no Afeganistão e os esforços para acabar com o conflito.

“Sendo eu do Afeganistão, um país onde há sempre conflito e guerra, fiquei curiosa sobre as organizações que trabalham na construção da paz, sobre como atuam nestas questões”, diz Suhaila. “Este trabalho é realmente valioso e, por vezes, perigoso, mas vale a pena.”

Atualmente, Suhaila trabalha no departamento de administração e finanças da Search for Common Ground, uma organização internacional não-governamental focada na coesão social, resolução e prevenção de conflitos. E, apesar de estar longe há mais de 20 anos, o Afeganistão e as mulheres afegãs nunca estão longe dos seus pensamentos.

“No futuro, se for possível regressar e trabalhar no Afeganistão com segurança, quero muito ajudar as mulheres de lá… Fiquei de coração partido quando ouvi que os talibãs proibiram as mulheres de frequentar o ensino superior”, diz.

Desde 2021, as mulheres e raparigas afegãs enfrentam uma discriminação sistemática em todas as áreas da vida pública e estão impedidas de exercer os seus direitos humanos básicos. O ACNUR, juntamente com o restante sistema das Nações Unidas, continua a apelar às autoridades de facto do país para que terminem as restrições impostas às mulheres e raparigas.

Um Passo Mais Perto do Sonho

Suhaila aproximou-se um pouco mais do seu sonho de viajar e trabalhar em 2023, quando obteve a cidadania da República Quirguiz, com a ajuda dos serviços jurídicos e de aconselhamento do ACNUR.

“Ainda que tivesse um cartão de refugiado e fosse legal para mim trabalhar na República Quirguiz, era difícil encontrar emprego”, explica Suhaila, acrescentando que algumas organizações têm receio dos processos envolvidos na contratação de refugiados. “Foi surreal”, diz, ao recordar o momento em que recebeu a cidadania. “Agora que sou cidadã, estou no controlo.”

Bolsas DAFI - Ensino Superior

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