Com a intensificação das hostilidades nas regiões orientais da Ucrânia, Nina Ryazantseva foi uma das milhares de pessoas que fugiram ou foram evacuadas das comunidades da linha da frente nos últimos meses.
Enquanto os combates se desenrolavam em torno da sua aldeia, no norte da região de Donetsk, na Ucrânia, em agosto, Nina Ryazantseva, de 82 anos, carinhosamente conhecida por “Baba Nina”, escondia-se na cave da sua casa.
Estava ali há semanas, com fome e isolada, desde que se começaram a espalhar rumores de que as forças russas estavam a avançar para a aldeia. No início de agosto, as autoridades ucranianas começaram a evacuar os habitantes da aldeia, mas Nina estava relutante em deixar a casa que tinha passado anos a construir, tijolo a tijolo. No dia 9 de agosto, ainda estava na cave quando uma explosão reduziu a sua casa a escombros.
Abalada e ensurdecida pela explosão, emergiu dos destroços e fugiu levando apenas os seus documentos, algumas fotografias e um pedaço de papel com o seu número de contacto de emergência. Tinha escrito o mesmo número nas mãos e nos braços. “Se eu não sobrevivesse e o papel se perdesse, queria que quem me encontrasse soubesse a quem telefonar.”
Desde agosto, a intensificação dos ataques aéreos e das hostilidades por parte das forças russas que avançam tem devastado Donetsk, uma região parcialmente ocupada desde 2014, com mais áreas tomadas desde a invasão total da Ucrânia pela Rússia em fevereiro de 2022. Nina foi uma das mais de 111.000 pessoas que fugiram ou foram evacuadas pelas autoridades e por voluntários desde agosto. Os que ficaram enfrentam uma grave escassez de recursos vitais, incluindo água e gás.
A maioria dos habitantes da aldeia já tinha sido evacuada quando Nina saiu das ruínas da sua casa. As ruas estavam desertas e o ar cheio de fumo. “A minha aldeia, Serhiivka, foi completamente queimada; nem uma única casa sobreviveu”, recorda Nina, de cabeça baixa. “Era onde eu planeava passar o resto da minha vida. Mantinha-me ligada ao meu passado.”
Uma vida nómada
Apesar da sua relutância em deixar Serhiivka, grande parte da vida anterior de Nina tinha sido definida pelo movimento - fosse por aventura ou por sobrevivência. Nascida em Zhytomyr, uma região no noroeste da Ucrânia, cresceu numa altura em que as pessoas percorriam longas distâncias em busca de trabalho e de oportunidades. Aos 22 anos, partiu para o Cazaquistão, onde trabalhou como motorista de trator e mecânica.
“Nessa altura, eu era uma das poucas mulheres a trabalhar no terreno”, afirma orgulhosa. “Lembro-me de passar naqueles difíceis testes de condução de tratores. Mas, para mim, não se tratava apenas de um trabalho, mas de ultrapassar os limites e viver à minha maneira.”
Os anos em que Nina operou tratores no Cazaquistão trouxeram-lhe orgulho e independência, mas após duas décadas num trabalho fisicamente exigente, instalou-se em Serhiivka, onde encontrou trabalho na manutenção do sistema de aquecimento da escola local.
Anos mais tarde, quando deixou para trás o que restava de Serhiivka, seguiu a linha das árvores e agachou-se quando teve de sair do esconderijo e atravessar os campos.
“Agachava-me quando caminhava para evitar ser detetada por drones ou apanhada por tiros”, explicou Nina. “Sentava-me sempre que sentia uma ameaça. Havia tiros de ambos os lados”.
Quando finalmente encontrou dois homens, já tinha percorrido dezenas de quilómetros. “Quando eles perguntaram como é que eu tinha conseguido chegar tão longe, eu disse: 'Conheço de cor todos os campos desta região'.”
Ao verem que estava exausta, ofereceram-lhe água, pão e chocolate. Nina estava decidida a continuar sozinha, mas os homens insistiram em contatar os Anjos Brancos, um grupo de ajuda humanitária coordenado pelo Estado, responsável por intervenções humanitárias e evacuações nas zonas de conflito da Ucrânia.
Dias melhores para vir
Os socorristas locais acabaram por levar Nina para um centro de trânsito para evacuados em Mezhova, na região de Dnipropetrovsk, que é apoiado pelo ACNUR. Sendo um dos principais centros de acolhimento de pessoas evacuadas, o centro tem prestado a Nina e a centenas de outras pessoas o alívio e o apoio de que tanto necessitam.
O ACNUR e os seus parceiros reforçaram a capacidade do centro, fornecendo camas e roupa de cama, apoio psicossocial, ajuda no acesso aos serviços sociais e aconselhamento jurídico para as pessoas que perderam documentos durante a fuga. O ACNUR também está a apoiar outros centros de trânsito que estão a receber milhares de pessoas evacuadas da região de Donetsk, incluindo um em Pavlohrad, na região de Dnipropetrovsk, que abriu em setembro e rapidamente se tornou um dos mais movimentados da Ucrânia.
Serhii Petrovskyi, que dirige o gabinete do parceiro do ACNUR, Proliska, na região de Dnipropetrovsk, afirmou que a maioria das pessoas evacuadas de Donetsk chega em estado de choque. “Perderam as suas casas, muitos estão separados da família e não sabem o que se vai passar a seguir. O stress é esmagador e muitas pessoas têm dificuldade em lidar com a situação”, afirmou. “O nosso objetivo é prestar apoio psicológico imediato para os ajudar a começar a pensar no que fazer a seguir.”
Para Nina, o centro de trânsito era um local onde podia finalmente comer uma refeição adequada, tomar um duche e dormir confortavelmente. “Pela primeira vez desde há algum tempo, senti-me segura e descansada”, disse.
Ficou alguns dias à espera que familiares a fossem buscar e a levassem para a sua cidade natal, Zhytomyr. Aí, planeava reunir-se com familiares e procurar apoio médico.
Apesar da sua provação, a voz de Nina continua alta e vibrante, enchendo a sala com a mesma energia que outrora trazia para os campos. Mesmo depois da sua vida nómada, nunca imaginou que um dia teria de fugir a pé através dos escombros da sua querida aldeia. Mas uma vida inteira de trabalho árduo deu-lhe uma força e uma autoconfiança que estavam mais do que à altura da tarefa.
“Porque é que acham que ainda uso fatos de treino?”, diz ela. “Ainda consigo correr mais do que metade destes jovens. Posso já não ser tão alta, mas continuo a ser forte!”
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