Moçambique: a emergência invisível que precisa de si Moçambique: a emergência invisível que precisa de si

Moçambique: a emergência invisível que precisa de si

Desde o início de fevereiro, a violência, os ataques a civis e os fenómenos meteorológicos extremos obrigaram cerca de 700.000 pessoas a fugir das suas casas. A grande maioria são mulheres, muitas delas grávidas, idosos, pessoas com deficiência e crianças. Estas pessoas necessitam urgentemente de proteção e assistência.

Há mais de seis anos que a violência extrema eclodiu na província de Cabo Delgado no norte de Moçambique, forçando quase 1 milhão de pessoas a fugir durante esse período. Moçambique acolhe cerca de 30.000 refugiados e requerentes de asilo, enquanto 850.599 pessoas permanecem deslocadas internamente devido à violência perpetrada por grupos armados não estatais e também pelo impacto devastador da crise climática - sendo Moçambique um dos países mais afetados do mundo. O ciclone Freddy em fevereiro e março de 2023, um ano após o devastador ciclone tropical Gombe, afetou mais de 1 milhão de pessoas, destruiu infraestruturas e desalojou cerca de 184.000 pessoas. A situação humanitária em Moçambique continua a ser de elevada gravidade visto que cerca de 2.2 milhões de pessoas necessitam de assistência e proteção. A posse de documentação civil é crucial, pois permite que as pessoas deslocadas à força tenham acesso a serviços, incluindo cuidados de saúde e educação, e aumenta a sua liberdade de circulação. O ACNUR continua a apoiar os refugiados e os membros da comunidade de acolhimento no assentamento de refugiados de Maratane, na província de Nampula, com apoio direcionado para a saúde e nutrição. Simultaneamente, o ACNUR está a aumentar o envolvimento com os intervenientes na construção da paz na região.

A Portugal com ACNUR alerta para uma crise humanitária de larga escala, onde o financiamento não chega e é crucial.

No terreno, o ACNUR tem vindo a redobrar esforços para dar resposta a esta população já desfavorecida e cuja vulnerabilidade aumenta de dia para dia, devido aos conflitos mas também aos recentes desastres climáticos. O ACNUR já prestou serviços na área da proteção a 485 mil pessoas e foi responsável pela distribuição de artigos não alimentares a mais de 72 mil pessoas, apoiou mais de 81 mil com serviços de Coordenação e Gestão de Campos, garantiu abrigo a mais de 10 mil e apoiou mais de 66 mil com cuidados de saúde.

Patrício Moçambique

Violência e desastres climáticos: “Não tivemos outra escolha senão fugir pelas nossas vidas"

Patrício Mponda é um dos milhares de deslocados internos apoiados pelo ACNUR em Corrane, na província de Nampula, e um entre os milhares de pessoas que testemunharam a violência em Cabo Delgado, no norte do território moçambicano. A sua aldeia foi atacada três vezes, nas "duas primeiras vezes, fugimos para o mato e regressámos às nossas casas depois de terem saqueado tudo", começa por contar. "Durante o terceiro ataque, em julho de 2020, queimaram 70 casas, incluindo a minha, e decapitaram algumas pessoas. Não tivemos outra escolha senão fugir pelas nossas vidas". Para trás ficou a sua terra, a sua vida e uma grande dor, pelo seu sobrinho, de 22 anos, morto a tiro no segundo ataque, em abril de 2020, e pela sua filha de 24 anos que foi raptada na mesma ocasião e de quem nunca mais teve notícias.

O ciclone Freddy em fevereiro e março de 2023, a tempestade tropical Ana em janeiro de 2022 ou o ciclone Gombe em março, trouxeram desafios adicionais tanto para as populações deslocados do Norte do país, como para as comunidades de acolhimento. “Mais de 380 mil pessoas foram afetadas só na província de Nampula, incluindo dezenas de milhares de deslocados. Pessoas que necessitam urgentemente de assistência humanitária, incluindo materiais de abrigo para reconstruir as casas que ruíram durante a tempestade”, apela Boris Cheshirkov.

Neste momento, o ACNUR está a mobilizar, com urgência, abrigo e outros bens essenciais para apoiar 62 mil refugiados, deslocados internos e membros das comunidades de acolhimento que já apoiava e a reparar as infraestruturas danificadas nos vários campos.

Até agora, cerca de 300 novos abrigos foram construídos em Corrane, com planos para construir mais 250 até ao final do ano. Uma operação que requer um grande esforço e investimento por parte da Agência da ONU para os Refugiados e para a qual vai necessitar de mais fundos.

ACNUR no terreno em Moçambique
Foto: © ACNUR/Isadora Zoni

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