Mãe sudanesa sofre tragédia antes de fuga perigosa para a Líbia Mãe sudanesa sofre tragédia antes de fuga perigosa para a Líbia

Mãe sudanesa sofre tragédia antes de fuga perigosa para a Líbia

9 de outubro, 2024

Tempo de leitura: 4 minutos

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Depois de a vida da sua família em Darfur ter sido destruída pelo conflito, Tahani Hamid seguiu um caminho perigoso para a Líbia, onde cerca de 100.000 refugiados sudaneses procuraram proteção contra a guerra.

Tahani Hamid, de 35 anos, recorda a sua vida anterior como dona de casa na região sudanesa do Darfur como pacífica e feliz, cuidando dos seus três filhos pequenos e preparando refeições para eles e para o marido, um polícia local. Mas quando a rivalidade entre duas fações militares sudanesas se transformou num conflito em grande escala em abril do ano passado, uma série de calamidades abalou essa vida tranquila, mudando-a para sempre.

Nas semanas que antecederam o início do conflito, houve escaramuças armadas no seu bairro em Neyala e uma bala perdida perfurou o telhado de metal da sua casa de tijolo de barro, atingindo Hamid mesmo acima do cotovelo esquerdo. Foi levada de urgência para o hospital e foi operada ao ferimento. Pensando que o pior já tinha passado, a família regressou a casa, mas qualquer otimismo revelou-se tragicamente infundado.

Em julho, milícias armadas entraram em casa para deter o marido de Hamid. Quando Hamid tentou defendê-lo, foi atingida com a coronha de uma espingarda automática, ficando com ferimentos graves. O marido foi amarrado e levado e, desde então, Hamid nunca mais o viu. Ela não tem a certeza de que ele esteja vivo.

Um mês depois, em agosto, aconteceu o impensável. Enquanto Hamid estava a fazer compras no mercado local, uma explosão rasgou o ar da manhã. Minutos depois, um vizinho correu para ela e disse-lhe que a sua casa tinha sido atingida. As suas filhas gémeas e a avó que tomava conta delas tinham sido mortas. Ela desmaiou, acordando no dia seguinte no hospital com a perceção de que o seu pior pesadelo se tinha tornado realidade.

Apesar da sua dor, Hamid ainda tinha o seu filho Emad, de 18 meses, para proteger. Decidiu então fugir para a Líbia com ele e um primo. A Líbia tem uma ligação histórica com o Sudão e, antes do início do conflito, era o lar de mais de 130.000 sudaneses. No entanto, a longa viagem pelo deserto seria repleta de perigos. “Não tive escolha”, diz Hamid. “Tinha demasiado medo que eles viessem atrás de mim também.”

Viagem perigosa

Depois de pagarem um preço elevado pelo transporte para Alkufra, a primeira grande cidade do outro lado da fronteira com a Líbia, um furo no caminho - normalmente um pequeno inconveniente - quase custou a vida à mãe e ao filho. Deixando a carrinha e os seus passageiros encalhados no meio do deserto, o condutor apanhou outro veículo para atravessar a fronteira com o Sudão e encontrar um pneu sobresselente.

“Demorou três dias inteiros a chegar até nós. Quando regressou, já tínhamos acabado a água e a comida”, conta Hamid. “Estávamos numa situação muito, muito má. Muitos desmaiaram porque não tínhamos conseguido beber. Naquele momento, pensei: “Eu também, vou morrer aqui”.

A viagem do Sudão para a Líbia é bem conhecida pelos seus perigos. As carrinhas pick-up fazem a travessia de três dias pelo deserto remoto, muitas vezes sob um calor feroz, com os passageiros amontoados na parte de trás. Os cadáveres ao longo do percurso são um lembrete claro de que aqueles que caem são deixados para trás.

“Apesar de tudo, esta viagem foi melhor do que ficar no Sudão”, sublinha Hamid.

Cerca de 100.000 refugiados sudaneses chegaram à Líbia desde o início da guerra, de acordo com as estimativas do ACNUR. A maioria tomou o mesmo caminho que Hamid para Alkufra, a partir da região de Darfur ou da capital, Cartum.

Uma segurança precária

Depois de chegarem a Alkufra, Hamid e o seu primo arranjaram dinheiro para a viagem até Tripoli. Sem abrigo durante várias semanas à chegada, foram acolhidos por uma família sudanesa que vivia na capital há mais de 20 anos.

“Eles ajudaram-me a encontrar um emprego, uma casa e a pôr comida na mesa”, conta Hamid. Quando estava finalmente a recuperar, Emad adoeceu e teve de ser hospitalizado. Embora o seu tratamento fosse gratuito, Hamid não tinha meios para pagar a medicação.

A família adiantou-lhe o dinheiro, mas também eles estavam com dificuldades financeiras. Ela prometeu pagar a dívida, apesar de não saber onde poderia encontrar o dinheiro. O apoio financeiro prestado pelo ACNUR acabou por lhe permitir pagar a dívida. O ACNUR presta assistência de emergência em dinheiro a alguns dos refugiados mais vulneráveis da Líbia.

Hamid guardou o resto do dinheiro para ajudar a pagar a renda do apartamento que agora partilha com duas outras famílias de refugiados. Como muitos refugiados na Líbia, ela espera encontrar um lugar mais seguro para chamar de lar. O ACNUR está a trabalhar para proporcionar aos refugiados soluções a longo prazo, como a reinstalação, o reagrupamento familiar ou a evacuação da Líbia. Até agora, este ano, 650 refugiados deixaram o país através dessas vias, mas com 65.000 refugiados registados, as necessidades ultrapassam de longe as oportunidades.

Embora Hamid tenha conseguido escapar do Sudão e alcançar uma segurança relativa, carregará as cicatrizes físicas e psicológicas do conflito para o resto da sua vida. O seu único sonho agora é proteger o filho - o único membro da família que lhe resta - e dar-lhe a oportunidade de ter um futuro melhor.

“Só estou à procura de um lugar seguro; não importa onde.”

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